Indicações para ler mais mulheres em 2020

Por @resenhinhas

Nós sempre pensamos em “O que falar no Dia da Mulher?” Não é um dia de comemoração, não é de celebrar, mas de refletir. Temos certeza que seu feed está cheio de publicações sobre esta data e, por isso, nos perguntamos como falar sobre isso de uma maneira que não seja só mais um post.

Decidimos então fazer um post de indicação de autoras. Mas pedimos licença para Clarice Lispector, J.K. Rowling, Agatha Christie e outras consagradas para falar de nomes que, por mais que estejam fazendo sucesso, ainda têm potencial (em nossa humilde opinião) de chegar muito mais longe. Não queremos diminuir as rainhas, mas temos certeza que existem muitas mulheres que também podem se tornar nomes que superam o tempo. E elas também merecem espaço.

Junto com essa ideia, fica o nosso questionamento: o quanto você se permite conhecer novas autoras, mulheres contemporâneas fora do cânone que estão produzindo obras enquanto nós falamos? A gente não é exemplo disso, ainda temos muito o que explorar, mas com certeza é um “esforço” – entre aspas mesmo, porque é muito prazeroso – que fazemos conscientemente.

Provavelmente você já viu a gente falar da maioria desses títulos, mas é porque apenas indicamos o que já lemos.

Livros de ficção

Becky Chambers

Livro que indicamos: A Longa Viagem a Um Pequeno Planeta Hostil

Sabe aquelas ficções científicas cheias de explosões altamente sonoras no espaço sideral? Isso não tem nada a ver com a Becky Chambers, uma autora que explora galáxias de um jeito bastante intimista. A obra que estamos recomendando pra vocês — A Longa Viagem a Um Pequeno Planeta Hostil — é uma ficção científica que fala sobre a relação entre seres de espécies diferentes. Em vez de grandes guerras e sabres iluminados, a obra fala sobre conflitos entre culturas e dificuldades cotidianas da vida no espaço. Como seria a vida se a espécie humana fosse apenas mais uma entre várias espécies inteligentes? Uma inteligência artificial que pensa como humanos é uma forma de vida? Se essas perguntas te empolgam, vai de Becky Chambers. Um fato curioso: esse livro foi publicado graças a um financiamento coletivo. Legal, né? ????

Harper Lee

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Livro que indicamos: O Sol é Para Todos

Esse aqui é um daqueles livros que ficam marcados pra sempre na memória. O Sol é Para Todos fala sobre o racismo estrutural do sul dos Estados Unidos a partir da visão de Scout, uma criança pequena. O pai dela, Atticus Finch, é advogado e está defendendo um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca. Como é possível imaginar, isso traz dificuldades para a família Finch. Além do mérito literário e social, a Harper consegue tratar de temas pesadíssimos com uma eficiência cirúrgica. Sob o olhar sem filtros de Scout, os costumes cruéis dos adultos aparecem como aquilo que realmente são: cruéis e sem sentido. Entre diversas passagens marcantes, essa aqui é uma das mais bonitas: “Queria que você a conhecesse um pouco, soubesse o que é verdadeira coragem, em vez de pensar que coragem é um homem com uma arma na mão. Coragem é fazer uma coisa mesmo estando derrotado antes de começar. E mesmo assim ir até o fim, apesar de tudo.”

Sally Rooney 

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Livro que indicamos: Pessoas Normais

Já chega de livros que falam sobre casais jovens, certo? Errado! A irlandesa Sally Rooney escreve sobre relacionamentos entre jovens de um jeito muito diferente do que você pode estar acostumado. Em Pessoas Normais, acompanhamos as vidas de Connell e Marianne, duas pessoas que relutam em admitir que gostam uma da outra. Até aí nada de muito diferente de vários romances teen. A diferença aparece na profundidade psicológica dos personagens, que vêem suas vidas mudarem completamente quando saem do ensino médio para a faculdade. Só pra dar um gostinho extra, dá uma olhada nesse trecho do Connell descrevendo como se sente quando está com a Marianne: “Estar sozinho com ela é como abrir uma porta para fora da vida normal e fechá-la depois de passar.” Profundo, hein?

Gillian Flynn

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Livro que indicamos: Objetos Cortantes

Camille Preaker é uma repórter de Chicago que volta para a cidade minúscula onde nasceu para cobrir a morte de uma menina e o desaparecimento de outra. A partir desse enredo, Gillian Flynn constrói uma narrativa que não perde o ritmo em nenhum momento (talvez por possuir muitos diálogos e poucas descrições). Enquanto investiga quem está por trás dos crimes em sua cidade natal, Camille precisa confrontar velhas feridas do passado — e essas feridas não são apenas emocionais… Essa leitura é imperdível pra quem ama um bom suspense. Os personagens são tão sólidos e a história tão convincente que a HBO produziu uma minissérie homônima. Fica a dica: vale a pena assistir e ler Objetos Cortantes!

Toni Morrison 

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Livro que indicamos: O Olho Mais Azul

Como meninas negras podem se sentir bonitas em um mundo que lhes diz a todo momento que elas não estão dentro do padrão de beleza? Esse é apenas um dos questionamentos que Toni Morrison usou para falar da agressividade do racismo estrutural. A autora conta com os olhos de diferentes personagens sobre silenciamento, agressões, privações, descaso e outras violências que acabam condicionando diversas vidas, até atingir Pecola, a jovem e inocente protagonista que tudo que quer é ter olhos azuis para finalmente se sentir bonita. Avisamos: é um livro bem forte. Algumas cenas são pesadas demais e são o motivo pelo qual o livro teve uma recepção bem controversa.

Chimamanda Ngozi Adichie 

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Livro que indicamos: Hibisco Roxo

Chimamanda tem sido um nome de grande sucesso e isso não é à toa. Neste livro, vemos como a autora tem um estilo único, em que consegue transmitir sentimentos dos personagens para o leitor, criando não apenas empatia, mas a sensação de que estamos vivendo aquilo também. Ao trazer como cenário a Nigéria, ela também fala com maestria sobre conflitos políticos, religiosos, colonização na África e os efeitos que a situação econômica de um país inteiro pode ter sobre a vida de cada cidadão. É uma leitura muito bacana para conhecermos nem que seja um pouquinho de outras culturas e realidades!

Elena Ferrante 

Nossa indicação: Saga Napolitana (4 livros)

Apesar da identidade da autora se manter um mistério, não podíamos deixar de indicar uma série que consegue abordar com tanta verdade a complexidade única da relação de melhores amigas de infância. Acompanhamos em cada um dos quatro livros as diferentes fases das vidas de Lenu e Lila, amigas que despertam uma na outra raiva, competição, carinho, ciúmes, dúvidas, antipatia e diversos outros sentimentos conflitantes. É uma jornada intimista e que reflete com honestidade as nuances do nosso diálogo interior. O primeiro volume é mais parado, mas prometemos que a partir do segundo fica bem melhor!

Octavia Butler 

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Livro que indicamos: Kindred

Uma autora que usa ficção científica como pano de fundo para falar de preconceitos, desigualdades, falta de empatia e medo das diferenças. O que mais dá pra falar? Octavia foi uma grande autora que conseguiu fazer todas essas críticas de maneira clara e ainda te envolver com uma história surpreendente que mistura elementos mágicos com situações com as quais podemos nos relacionar. Em Kindred, acompanhamos Dana, mulher negra que vive no século XX, ser transportada misteriosamente para o passado com a missão de salvar um pequeno menino que está se afogando. O problema? Dana caiu em uma Maryland escravagista do século XIX, e o menino tem uma forte relação com sua história. Como ela fará para sobreviver? Deixamos essa pergunta para você descobrir na leitura! 

Livros de não ficção

Rebecca Solnit 

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Livro que indicamos:Os Homens Explicam Tudo para Mim

Com alguns ensaios rápidos, Rebecca Solnit nos coloca para refletir sobre todas as maneiras em que a opressão masculina se faz presente no nosso dia a dia enquanto conta histórias de sua vida, matérias que leu ou apenas reflete sobre a cultura ocidental enquanto mostra dados assustadores divulgados nos últimos anos. De maneira irônica, revoltada e objetiva, ela consegue traçar claramente como de um “inofensivo” comentário até as taxas de feminicídio no mundo todo, o machismo permeia nossas existências.

Angela Saini

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Livro que indicamos: Inferior é o Car*lho

A ciência é uma das ferramentas mais poderosas que a humanidade já criou, mas isso não significa que ela não possa ser usada para reforçar estereótipos culturais. Esse é o norte que Angela Saini adotou ao escrever Inferior é o Caralho, um livro que mostra como pesquisas feitas predominantemente por homens contribuíram (e ainda contribuem) para colocar as mulheres em posição subalterna. E a autora faz isso usando a própria ciência. Lançando luz sobre pesquisas mais atuais (e feitas por mulheres), Angela reúne dados bibliográficos em grande quantidade e refuta décadas de pesquisas enviesadas nas mais diversas áreas. Além do conteúdo imperdível, Inferior é o Car*lho conta com lindo projeto artístico assinado pela Darkside, editora conhecida por seu trabalho gráfico excepcional. 

Guacira Lopes Louro

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Livro que indicamos: Um Corpo Estranho

Quer ler sobre gênero, feminilidades e conhecer conceitos da teoria queer? Guacira Louro, além de ser uma grande pesquisadora brasileira, é uma autora extremamente didática. Ela consegue esmiuçar conceitos dificílimos trabalhados por outras autoras como Judith Butler e entregá-los para os leitores de maneira leve, como se fosse uma conversa entre amigas. Super indicamos a leitura para quem quer começar a ter familiaridade com esse assunto. 

Nana Queiroz 

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Livro que indicamos: Presos que menstruam

No livro indicado, Nana consegue pegar o estilo informativo próprio de uma matéria jornalística e costurá-lo com sensibilidade e empatia pelas histórias que estão sendo contadas ali. Ela traz dados e, principalmente, críticas sobre uma realidade que afeta tantas famílias de maneira didática e sem rodeios. É um livro essencial e, como consta na orelha, o mais completo e minucioso panorama da vida de presidiárias brasileiras.

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